quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Ah...a pesquisa de vinte leitores.

Motivado por este post, resolvi deixar a minha opinião sobre o que acontece na academia.

Por academia, entenda "pesquisa em Ciência da Computação feita no Brasil e que João Arthur tem conhecimento".

Existe sim um hiato entre o que é feito dentro da universidade e o que é feito no mundo lá fora. Até aí nenhuma novidade, né? O que eu vou deixar claro é o porquê, em minha opinião, dessa dicotomia entre esses dois mundos.

O principal fator é que o sistema da academia é endógeno. As publicações que procuramos ter geram impacto somente para dentro dos integrantes do próprio sistema. Esse ciclo vicioso faz com que nossos olhos não enxerguem além do portão do campus.

É como se o resultado da Fórmula 1 fosse só o mundial de construtores. Não é. O resultado da Fórmula 1 é a tecnologia que é trazida para o mundo real. Você há de convir que F1 não é mundo real. Se fosse, Damon Hill não tinha sido campeão.

Outro fator é que nos achamos espertos demais para servir ao mercado. "Temos que ter liberdade de criar." "Não podemos ser guiados por algo externo." "Não podemos ser fábrica de software!" "Só acordo depois das 10h" (essa última é minha)

Ora, que tal barganhar? Por que não ser fábrica de software com os seguintes objetivos:

  • Agradar o cliente
  • Formar mão-de-obra qualificada
  • Ganhar dinheiro para gastar em pesquisa que resolva outros problemas do cliente
Muita gente é contra. Não consigo entender o porquê. Algum professor que, por azar, cair nesse blog e for contra, está convidado a discutir.

Quase por fim, do jeito que está, pesquisa é útil apenas para gerar melhores educadores/professores.  Coisa que faz muito bem, por sinal. 

No mais, me frustra a ideia de que, o texto mais importante que vou escrever como pesquisador vai ser lido por, no máximo, vinte pessoas. Não é estranho que este post tenha mais leitores?

5 comentários:

Netuh disse...

Grande post Joao,

Mas acho que voce e o Matt Welsh nao tocaram em dois pontos importantissimos. Compartilhados pelo Professor Peter, quando fala sobre ser professor e diretor do POP; Likiso Hatori, ex-CEO da CPM-Braxis, em uma palestra no SBES; e Lecia Oliveira, ex-coordenadora do nucleo de inovacao da CPM-Braxis. Para eles (e o que eu concordo) existe esse hiato por 2 motivos, a frenquencia eh mais lenta na academia do que no mercado (o mercado eh mais dinamico e os processos academicos sao todos muito demorados); o segundo eh que a academia lida com muito facilmente com o fracasso, enquanto que na industria o fracasso eh catastrofico.

bem, eles ainda tem outros pontos interessantes sobre isso, mas o que me chamou a atencao foi a concordancia nesses dois pontos.

desculpe a falta de acentos.

Abracos

Bidu disse...

Gostei muito do texto João. Muito inteligente. Abração.

Nazareno disse...

Jão,

A discussão é muito pertinente, mas eu tenho a impressão que a solução à qual você chegou talvez seja muito simples.

Ter a universidade resolvendo os problemas de empresas não vai necessariamente aumentar o alcance da pesquisa feita lá (ou talvez aumente de 20 pra 30).

Eu tenho a impressão que você tocou num ponto central quando falou do propósito da pesquisa que fazemos na universidade: não toda, mais a maior parte tem como objetivo formar pessoal. Esse pessoal é o produto principal.

Eu acho que a idéia é que o texto mais importante que você vai escrever não vai ser sua dissertação nem sua tese. Talvez seja um artigo, talvez seja um relatório dentro de uma empresa, e talvez seja até um post em um blog.

Não?

João Arthur disse...

Sim, Naza. Concordo quanto ao texto mais importante não ser a dissertação. Quando escrevi também tinha isso em mente.

O texto mais importante, mesmo sendo um artigo ou um relatório ainda tem pouca chance de ser lido por gente de fora do nosso sistema. Mais um indício de que ele é endógeno.

Eu realmente acho que o maior produto é a formação pessoal também. E como disse, nesse sentido, a academia cumpre com excelência o seu papel.

Mas esse é o único papel dela?

Nazareno disse...

João,

Eu não tenho certeza de qual a resposta pra essa pergunta. Eu tenho a impressão de que essa é a principal função. Se a pesquisa feita na universidade puder também ter impacto fora dela, tanto melhor. Sem dúvida. E aliás em computação temos vários casos desse tipo (RAID e DHTs, por exemplo).

E só um outro comentário: eu quis dizer que depois da sua formação, você vai escrever textos que provavelmente serão mais importantes que a dissertação e/ou tese, e que esses textos poderão inclusive não ser direcionados pra a academia. Pode ser que um texto feito pra outra audiência seja mais importante na sua carreira. Mas acho que a gente não discorda nesse ponto.

E por último: eu acho que escrever artigos que sejam legíveis pelo maior público possível é um objetivo pra se manter em nmente.