domingo, 21 de novembro de 2010

Sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras

Sempre trancam o meu carro aqui na garagem do prédio. A solução, embora irritante, é simples. Falo com o porteiro para achar o dono do carro para que ele possa me libertar. Eu já acho isso um absurdo, mas a garagem é comunitária, então não posso reclamar com veemencia. Vale salientar que quando tem carro nela, coloco o meu do lado de fora.

Um dia ia dar merda, né? Pois é. Foi hoje. O Porteiro não estava. Eu estava saindo para almoçar. Merdou. Não havia o que fazer.

Fosse um homem de verdade, eu teria empurrado o carro dele com o meu. "Mas você esqueceu que eu sou frouxo?" Ou de uma maneira mais poética: "sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas."

Vim pra casa e escrevi um bilhete:

"Olá. Hoje não pude sair para almoçar porque o meu carro estava obstruído pelo seu.
Ainda bem que não foi nada urgente, não é?

Que tal combinarmos da próxima vez? Quando você for trancar meu carro, deixe um bilhete com o número do seu apartamento. Assim, será fácil eu interfonar e pedir para que, gentilmente, você tire seu carro.

À propósito, como não pude almoçar fora, estou fazendo almoço. Coisa simples. Strogonoff e arroz. Se você quiser aparecer, seja bem-vindo.

Abraços."

Colei no para-brisa dele, que por causa desse post descobri que perdeu o acento, mas não perdeu o hífen depois da nova reforma ortográfica.

Meus antepassados masculinos não devem ter muito orgulho de mim. Pelo menos ainda estou vivo e sem nenhum arranhão. É o que dizem por aí,  "frouxo não morre de facada."

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Ah...a pesquisa de vinte leitores.

Motivado por este post, resolvi deixar a minha opinião sobre o que acontece na academia.

Por academia, entenda "pesquisa em Ciência da Computação feita no Brasil e que João Arthur tem conhecimento".

Existe sim um hiato entre o que é feito dentro da universidade e o que é feito no mundo lá fora. Até aí nenhuma novidade, né? O que eu vou deixar claro é o porquê, em minha opinião, dessa dicotomia entre esses dois mundos.

O principal fator é que o sistema da academia é endógeno. As publicações que procuramos ter geram impacto somente para dentro dos integrantes do próprio sistema. Esse ciclo vicioso faz com que nossos olhos não enxerguem além do portão do campus.

É como se o resultado da Fórmula 1 fosse só o mundial de construtores. Não é. O resultado da Fórmula 1 é a tecnologia que é trazida para o mundo real. Você há de convir que F1 não é mundo real. Se fosse, Damon Hill não tinha sido campeão.

Outro fator é que nos achamos espertos demais para servir ao mercado. "Temos que ter liberdade de criar." "Não podemos ser guiados por algo externo." "Não podemos ser fábrica de software!" "Só acordo depois das 10h" (essa última é minha)

Ora, que tal barganhar? Por que não ser fábrica de software com os seguintes objetivos:

  • Agradar o cliente
  • Formar mão-de-obra qualificada
  • Ganhar dinheiro para gastar em pesquisa que resolva outros problemas do cliente
Muita gente é contra. Não consigo entender o porquê. Algum professor que, por azar, cair nesse blog e for contra, está convidado a discutir.

Quase por fim, do jeito que está, pesquisa é útil apenas para gerar melhores educadores/professores.  Coisa que faz muito bem, por sinal. 

No mais, me frustra a ideia de que, o texto mais importante que vou escrever como pesquisador vai ser lido por, no máximo, vinte pessoas. Não é estranho que este post tenha mais leitores?

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Os escrotos de "Viva o povo brasileiro"

Perilo Ambrósio é um sujeito escroto, parido por João Ubaldo Ribeiro em "Viva o povo brasileiro".  Ele, ou Ubaldo? Nunca sei a quem atribuir os atos. Ao criador ou a criatura? Pois bem, por ora, vou jogar a culpa no escroto criado. Perilo traduz em uma frase o que acho que todo cidadão, com raciocínio acima de uma ameba em coma, deveria tomar em uma votação. A citação é:

"─ Entre a Pátria e a família, minha boa mulher, Deus há sempre de me dar forças para escolher a primeira, eis que vale mais o destino de um povo que a sina de um só."

Essa é minha opinião sobre política. Não há de se pensar somente no seu quinhão. Eu entendo que, Serra ou Dilma, se entrarem, pouco vão influir na vida das classes mais altas. Talvez as coisas fiquem um pouco mais difíceis ou um pouco mais fáceis para mim, mas não vai mudar muito.

Muda realmente para os extremos. Sobretudo para o extremo mais pobre. A entrada de Lula em 2002 impactou de uma forma absurda na população miserável. Entrando ele ou Serra para mim (enquanto classe média) tanto fazia, mas não tanto fez para essa classe de gente que vive na faixa de gaza - entre a fome e a vontade de morrer.

Isso, para nós paraibanos, ainda é mais evidente. A frase parece ter sido criada para o nosso cenário político. Há de se votar pensando em quem de fato é melhor para todos, e não de um destino comissionado de um só.

--

ps.: Voto em Dilma e Ricardo.
Ainda estou lendo viva o povo brasileiro, mas ele é grande e não tem figuras. Não estou gostanto.
Apesar da frase, Perilo é um escroto.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Livros e Remédios

Acabei de ler Adultérios, de Woody Allen. Estou dizendo isso porque é raro eu ler. Por isso, é preciso registrar. Já disse, não gosto de ler, gosto mais das figurinhas.

O fato é que depois desse livro eu consegui caracterizar livros como remédios. Eu espero que um livro exercite partes dos meu cérebro que nunca, ou na maioria das vezes, são pouco utilizadas. Ou seja, que me cure ou me faça melhorar de alguma deficiência.

No caso desse livro, eu o caracterizei como um placebo. Li rápido. Digeri. Me deu uma sensação bacana de bem-estar por causa dos diálogos inteligentes e piadas/sacadas interessantes. No entanto, foi tudo efêmero e não causou efeito real. Eu não consigo dizer para alguém os motivos para se ler Adultérios. O livro me deixou bem por um certo tempo (5 minutos), mas não vai me servir nem para me gabar na roda de pseuso-intelectuais que frequentam o bar do tenebroso.

"Cara, Woody Allen é um gênio. Já li vários livros dele. Ele é o cara. O ISO 9001 dos criadores de diálogo Froidianos. Leia Adultérios, leia porque...é...é...porque é dele, velho. O cara é bom."

Por outro lado, Cem Anos de Solidão é um livro que me curou alguns carcinomas (eu ia dizer câncer, mas o plural de câncer é muito escroto).

Ainda, eu acho que existem livros que assemelham-se a quimioterapia. Isto é, eles te curam de células danosas, mas estraga outras e fazem você se comportar como babaca quando vai discutir algo relacionado ao assunto. Exemplos desses livros você pode encontrar na seção de livros marxistas.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Carregadores de Piano

Essa dúvida de que somos ou não ciência é papo recorrente e polêmico. No entanto, uma coisa que tenho certeza desde que ouvi Jacques falando pela primeira vez é que nós (ciência da computação) somos meio.

É isso. Computação não é fim. É meio. Somos usados para alguém ganhar dinheiro mais rápido. Somos veículo. Carregadores de piano.

O problema é que eu sempre olhei essa constatação com 3 graus de miopia. Sempre olhava com o viés do mercado. Empresários utilizam sistemas de informação para gerenciar melhor os dados e automatizar tarefas e, por consequência, arrecadar mais metal. No entanto, se olharmos com os óculos da pesquisa, podemos também servir de veículo para outras ciências.

Veja, a estatística permeia quase todas as outras ciências, servindo de veículo para dizer verdades com 95% de confiança. Por que não somos tão bem sucedidos quanto eles? Ou somos?

Se for parar pra pensar, o MatLab está aí poupando unidades de tempo da galera tem um bom tempo. Só que eu acho que poderíamos fazer mais. Nos mostrar mais. Eu tenho uma impressão do tamanho do meu bigode de que tem gente usando Poly 1.6 pra fazer cálculo repetitivo na mão porque não conhece o conceito de algoritmo.

Tudo bem. A estatística é ensinada desde que nos entendemos por estudantes de exatas. Será que essa é a saída então? Uns 2,5 Tesla de algoritmos no ensino médio?

Esse post é isso mesmo. Várias perguntas que gostaria de ouvir algumas respostas. Se possível, divergentes :)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Resumindo as discussões sobre o post anterior

Pessoal, muito legal as discussões geradas pelo post anterior. Faz tempo que eu não incendiava tanto. A última vez foi quando disse que Bono Vox é o Reginaldo Rossi Irlandês.

Resolvi fazer esse post para resumir alguns pontos interessantes. Alguém me corrige  se eu estiver errado.

O primeiro é: Pelo menos estamos preocupados/incomodados com a questão. Isso é um ótimo sinal e devemos seguir questionando. (Não sei se foi isso que Nigini quis dizer com "Espero que meus colegas novos cientístas continuem novos...")

- Isso devemos (pelo menos eu devo) muito aos nossos professores. Em especial, esse semestre, Raquel e seu filho mais velho - o método científico.

Nazareno acha que outro ponto muito importante é a relevância do que se estuda. O que faz muito sentido, embora Matheus tenha dado um contra-exemplo interessante. "Apenas 8 anos depois minha pesquisa foi utilizada."

Além disso, muitos concordam que pressões por publicação pode ser um catalisador do comportamento desonesto. Só que, como sempre, Nazareno viu além. Ele lembra que isso é só um reflexo da maneira como somos avaliados (# de publicações).

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Será que o que fazemos é pesquisa?

Eu acho que vou ser bastante criticado por esse post, mas essa é a ideia.

Eu faço a pergunta do título porque acredito que o que nós temos feito está bem longe da palavra pesquisa em seu sentido denotativo - investigação, indagação, inquirição, busca.

O que me leva a pensar assim é fato de existir uma grande quantidade de trabalhos, inclusive o meu mestrado, da seguinte maneira:

"Tenho uma ideia interessante e preciso mostrar que ela faz sentido, escala, tolera falhas etc"

Esse é o primeiro passo. Só depois disso se pensa "Qual problema eu quero atacar?", "Quem são os trabalhos relacionados?" e "Que métrica utilizar para avaliar?".

Isso é tão verdade que, *muita vezes*, mudamos o problema sendo atacado sem que se mude a solução!

A última pergunta evidencia ainda mais a minha opinião. Se eu utilizar uma métrica que não me favorece, a minha primeira atitude é entender o porquê disso. A minha ideia nunca está errada. E eu não meço esforços para mostrar isso. Mudo os cenários, mudo os dados de entrada etc. Mudo até a métrica, se for preciso. (eu = pesquisador)

Nesse caso, esses pesquisadores podem ser vistos como "criadores de boas ideias".

Essa atitude é bem diferente de observar um fenômeno natural e perguntar: Por que isso acontece? O cara que faz isso está pesquisando o porquê de um determinado fenômeno. Mesmo que ele não tenha uma grande ideia, ele parece se aproximar mais da palavra pesquisa do que o tipo "criador de boas ideias."

O que eu acho é que essas duas espécies podem conviver tranquilamente. Por um lado, o pesquisador curioso identifica um fenômeno, o estuda e mostra o porquê dele acontecer. Enquanto que o pesquisador "criador de boas ideias" tenta bolar ideias que explorem aquele porquê.

No entanto, a espécie pesquisador curioso parece estar em estinção, ao menos em Ciência da Computação. Eu acredito que nós somos muito mais "criadores de boas ideias" e que empurramos essas ideias goela abaixo com alguma métrica que nos satisfaça.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Como conheci Gabriel Garcia Marquez (Bielito)

Muitos me questionaram se sou mesmo amigo de Bielito.

Não sou. Fomos amigos até o momento em que ele passou a escrever o que eu ainda estava por ditar.

À época, eu tinha 15 e ele 60. Tínhamos muito em comum. Eu acabara de conhecer a história de Che e estava numa fase revolucionária. Ele estava aposentado há 10 anos e também achava que uma revolução lhe cairia bem.

O conheci na feirinha, em João Pessoa. Eu saindo do café 33 para comer um cachorro quente na mundial e ele comprando o jornal na banca em frente a quadra de tênis do hotel Cabo Branco.

Quando pagou a conta, se virou meio nervoso e deixou cair a Playboy da Tiazinha (Suzana Alves) que ele tinha escondido entre a notícia que Ronaldo estava dopado na final da copa do mundo e o anúncio do nascimento da Google, que pretendia superar o Cadê como melhor site de busca.

Olhei pra ele e disse: "As entrevistas da playboy são muito boas, né não?"

Quebrei o gelo na hora com um velho código que os homens usam para justificar a compra da playboy.

Ele sacou na hora.

Depois comemos. Um cachorro quente. Eu paguei. Ele tinha gasto toda a grana na entrevista de Maílson da Nóbrega - o entrevistado da edição da Tiazinha.

Ficamos amigos durante alguns anos, mas o tempo acabou passando e nossa amizade foi sendo minada. Acabou quando ele tinha 80 e eu 25. Sim, se você fez as contas e elas não batem é porque o tempo corre mais rápido para os que se aproximam da morte.

Aos 80 ele já não queria mais a revolução. Tinha medo que seus bens fossem partilhados pelos comunistas do sindicato. Além disso, dizia que, por estar perto da morte, seus dias eram mais emocionantes que passar pela pirâmide do parque do povo portando relógio de ouro.

Eu ri disso. Me lembrei quando lhe apresentei Jackson do Pandeiro em pleno São João de Campina e lhe disse: "Vai me dizer que Shakira é melhor?"

Ele me respondeu: "Respeite Shakira! Ela é capaz de quebrar a indústria pornográfica com aquele rebolado."

Ele era doido pela Shakira. Pouco por ser conterrâneo, muito pelo rebolado.

Foi nesse tempo que ele escreveu um de seus livros. Me confessou certa vez que o título fazia referência a sua paixão pela colombiana. Em sua promessa, ele jurou que era capaz de trocar cem anos de solidão por uma noite com a cantora.

Eu lhe disse: "Contente-se com suas putas tristes, seu velho desmemoriado."

Daí, ele roubou o título de outra obra.

Depois disso começamos a brigar pela autoria de vários textos. Ele vinha com o velho argumento: Qualquer coisa que se pense, se não é escrito ou dito, não é seu.

Velho escroto.

Pior que, depois dele, eu criei esse blog e vivo escrevendo o que penso. Vai que uma merda dessas alguém lê e percebe quão vigaristas são os bons escritores. Vivem escrevendo o que nos pertence.

Gabriel Garcia Marquez

Eu li o livro "Memórias de minha putas tristes" faz muito tempo. No entanto, me lembrava perfeitamente que uma passagem dele foi feita por mim. Me lembrava em que parte (física mesmo) da página estava esse meu trecho e que pedi a "bielito" que não mudasse nem o que estivesse gramaticamente errado.

Ele disse que o texto era bom, mas que ia mudar umas coisas. Nossa amizade acabou por aí. Quando li "Cem anos de solidão", enviei uma carta para ele dizendo: "Que confusão mental é essa? Com tantos nomes e tão parecidos, não se passa da primeira página dessa merda. Ninguém vai ler."

Enfim, depois de muito tempo procurando, acabei achando meu trecho. Esse livro vale a pena só por ele. Não gosto de ler, curto mais as figurinhas.

"Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do zodíaco."

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Certidão

Eu gostei de Casuarina de cara. Pela execução bem feita e pelo repertório bem escolhido.

Existe uma música deles que me emociona. O nome é Certidão. Ela traz uma mensagem fantástica. Fosse o samba de gente do morro e negra, Noel não teria vencido. Um ritmo não é de uma classe, nem de uma cor. Samba é feito de morro, feito de negro, feito de branco e feito de asfalto. Não se pode pedir certidão.

Veja um pedaço da resenha do Biscoito Fino:

“CERTIDÃO é um grito. De quem vem sendo posto em cheque por fazer samba. Logo o samba, sempre tão popular e acessível, agora tinha uma cartilha determinando quem o podia ouvir e fazer. CERTIDÃO é a resposta dos músicos-não-sambistas-que-fazem-samba-ainda-assim. Quando João Fernando me mostrou a melodia, vi na hora que ela se prestava, como uma luva, a esse propósito de gritar que não pedimos endosso, não pedimos para ser sambistas, apenas ouvimos sambas, fazemos sambas e vivemos do samba. Um pouco por vocação, um pouco por contingência, muito porque ninguém faz samba por preferir.


A música é essa (não é possível colocar o vídeo aqui)

Certidão
É papel que não preciso, não
Pois o samba que hoje canto
É íntimo e tem razão de ser

As palavras não são sem querer
Eu já sei secar meu pranto
Com a força do meu bordão

Autêntica inspiração
De quem só vê beleza
O samba é universal
Razão primordial
Do som
Ninguém detém o dom
E digo com certeza:
É público tal e qual
O nosso carnaval

Mas, vem...
Desata a criar também
Que a nossa natureza
Precisa brincar de Deus
Provar que é dos seus

Já vou...
O mestre me endossou
Com toda gentileza
De quem tem no coração
Amor que não precisa

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Tópico Frasal - Exemplo da vida real

Existe um porquê de usar tópico frasal. Imagine que você enviou documentos para se inscrever em um concurso e está esperando o deferimento ou indeferimento de sua inscrição.

Nesse meio tempo, você recebe a notícia que dois amigos seus tiveram a inscrição indeferida. Ou seja, perderam 110 dinheiros e a chance de participar do certame.

Nesse momento, você já está se cagando todo.

Finalmente você recebe o email. Já com medo de ler, você abre e se depara com o seguinte texto:

"Prezado Candidato,

De ordem da Chefia do Departamento de Ciências Exatas, vimos por meio do
presente informar que sua solicitação de inscrição para Concurso Público
de Provas e Títulos para Professor, Classe Assistente, Nível I, na área de
Desenvolvimento de Sistemas foi deferida."

Meu amigo, o cara já está se borrando e ainda a galera vem com esse palavriado todo? "Chefia", "meio do presente" ...

Tudo isso para que? Para comunicar a última palavra: deferido.

Tópico Frasal: "Prezado, sua inscrição foi deferida."

Depois disso vem todo o blá blá blá burocrático.


terça-feira, 13 de abril de 2010

Não adianta

Já procurei por todo canto
não adianta
na melodia de luiz ela não se escondeu
pelo pagode de zeca ela não anda

A vila de martinho vasculhei
pela batida do pandeiro de jackson tentei chamar
onde se meteu, não sei
para tê-la de volta, até a viola de paulinho eu fiz chorar

chora viola de paulinho
canta um pagode, zeca pagodinho
pra ela voltar

eu trago martinho lá da vila
de luiz, canto uma melodia
pra ela voltar

não adianta
sem ela, emudeceu-se tudo que canta
nem implorando
tudo que gritava, agora anda susurrando
esperando ela voltar…

terça-feira, 6 de abril de 2010

Tópico Frasal

Aprendi bastante com a revisão que meu orientador fez da minha dissertação. Sobretudo porque ele não alisou :)

Uma das lições que tirei é o uso de tópico frasal. Na verdade eu já sabia disso, sabia que era bom usar, tinha plena consciência de que melhora a leitura do texto, mas não estava usando.

Tópico frasal é uma sentença curta que resume o parágrafo. Um exemplo tirado da wikipedia:

Em 1986, os veículos a álcool chegaram a representar 98% da linha de produção. Os veículos a gasolina só eram disponíveis por encomenda. Devido a medidas na área financeira, a produção de carros a álcool hoje mal chega a 1% da frota nova. Os que restam a álcool estarão em uso por curto tempo. O programa foi exterminado.

A sacada é você apresentar a ideia do parágrafo para que o leitor se situe. Desse modo, ele saberá do que vai ser tratado logo no início do parágrafo.

Isso me remete àquele mesmo papo que discuti em um post anterior. Sobre não deixar o leitor na expectativa. Texto científico não é romance. O leitor não pode ficar curioso sobre o que vai acontecer.

Para mostrar que aprendi, e para que sirva de exemplo para quem precisar, vamos a um exemplo retirado da minha própria dissertação.

Antes estava assim:

"No contexto de arquitetura de software, várias atividades foram propostas para aplicar
o processo de verificação, isto é, checar se a implementação segue as decisões arquiteturais
previamente especificadas. O termo utilizado nessa área é verificação de conformidade."

Perceba que eu queria falar sobre verificação de conformidade, mas isso só apareceu no final do parágrafo. Quando chegou por lá, o leitor parecia que tinha corrido uma são silvestre piauiense.

Tópico frasal:
"Verificação de conformidade é um dos tipos de verificação de software.
"

A partir de então eu dissertaria sobre o assunto, sacou?

terça-feira, 2 de março de 2010

Bando de Brasileiros!

Uma coisa tem me incomodado bastante ultimamente. E não são as derrotas do meu time. O que tem me irritado é essa mania de "por que você não mora fora?". "Lá é seguro. Você pode usar seu mac de dentro do ônibus às 3 horas da manhã." Essa coisa bem médio-classista de ainda olhar pro leste como quem olha para o patrão. Admirando, invejando e copiando seu estilo de vida requintado. Essa mania de vender o fígado para passar as férias em Paris, e não conhecer a chapada diamantina ou o delta do parnaíba.

Pois bem, meus novos ídolos agora são os que colocam uma mochila nas costas e vão conhecer a américa latina. Esses são meus heróis porque olham para nós mesmos. Somos muito mais incas e astecas do que franceses ou ingleses. Somos porque temos a mesma história, derramamos quase a mesma litragem de sangue para manter nossa marca. Novos ídolos, não! Admiro faz tempo Martinho da Vila porque foi um dos poucos que foi à África aprender samba. Procurar gente da gente é o que faz a diferença entre brasileiros e euro-brasileiros.

Embora tenha vontade de conhecer Paris, eu pouco me importo com a Torre de Ferro que lá existe. Queria sim passear pelas ruas e becos franceses. Queria, porque é lá que cada um dos turistas deixam meio milímetro de sola de sapato e alguns Giga de experiências incríveis. Queria experimentar sua carne, seus entorpecentes e seu pão. Assim como faço por aqui. Portanto, enquanto aqui sobrar becos e botecos de esquina, não invejo quem mora além mar.

Sempre preferi a magia e obscuridade dos terreiros às catedrais de cartões postais européias. Eu gosto de amigos, gosto de gente. Fico ansioso quando num sábado está marcado aquela cerva na casa de algum dos meus marginais. Fico pensando "com que roupa eu vou pro samba que o arnesto me convidou". Gosto do pagode, do samba, de noel, de adoniran, da música brasileira. Ensaio piadas, afino o violão, tiro a poeira do cavaco, porque sei que vão gostar de me ouvir tocar. E vão cantar! Mesmo bêbados e descompassados. E sei que há hora pra começar, no entanto, não há para acabar. Sei que isso, por lá, não vou encontrar. Nem amigos verdadeiros, nem festas sem horário.

Ainda que pareça um grito policarpo ou de alguém que acha que o melhor do brasil é o brasileiro, corro esse risco. Sem botar banca, e sem querem fugir do que sou, é isso mesmo!
Isso que sou (que somos, mesmo que alguns não queiram). Um bucado de brasileiro que no DNA carrega sangue, suor e cerveja. E mesmo que você deseje a tranquilidade de andar com seu Macbook em uma lotação de um país desenvolvido, mesmo que você consiga, saiba, a miséria daqui não vai diminuir por isso. Essa é sempre a solução adotada por muitos para resolver o problema. Esconder ele. Empurrar para a periferia. Varrer pra de baixo do viaduto. Fugir num navio para que possa nunca mais ter contato com esse bando de brasileiro pobre e mal-educado. Vocês só me fazem lembrar a tal madame que João Gilberto jogou pedra, tal como o rebanho de tolos em Gêni de chico.

Vão. Mas, vão voltar. Com certeza. Vão voltar porque o que vai falar mais alto é o pedaço da língua que identifica um bom picado, uma moela e uma couve no alho. O que vai falar alto depois de um tempo é o que corre nas veias e formiga os pés, fazendo com que se movam em forma de samba. Seu bando de Brasileiros!