quarta-feira, 16 de março de 2011

São todos artistas

Existe por aí esse esforço, ainda que velado, mas existe. Esse esforço para desmoralizar o que se torna popular ou que vem das classes menos abastadas.

Sempre foi assim. Sempre será. Só acharam bonito "Você não me ensinou a te esquecer" e "Sozinho" quando Caetano Veloso cantou. Jogam merda na cara de Kelly Key e Latino, mas quando Maria Gadú faz um cover acham bonitinho.

Foi só o Rei Roberto cantar "Se ela dança, eu danço" que o funk do MC Leozinho ficou poesia pura.

Não sou eu quem diz isso. Eu só concordo. Hermano Vianna há um bom tempo vem tentando fazer justiça aos movimentos marginalizados, que, por coincidência, são originalmente de classes pobres. Esse texto sobre Calypso é sensacional, mas aviso aos pseudo-intelectuais de plantão: vocês vão precisar ter estômago para engolir tamanha sabedoria. Um aperitivo: "Salve Chimbinha! Salve Joelma! Os músicos mais populares no Brasil hoje! Quando vão ganhar a medalha do mérito cultural?"

Longe de mim defender esses artistas (?) - latino, U2, kelly key, peninha, calypso etc. Eu acho muito ruim a música deles, inclusive.

No entanto, pra mim, quem fala em pureza é conceitualmente facista.

Volta e meia um pseudo-intelectual me vem com uma dessas: "Horrível essa música. Não tem letra. Bom era no tempo de João Gilberto".

Era mesmo. Lindo. Olha só:


Bim bom bim bim bom bom
Bim bom bim bim bom bim bom
Bim bom bim bim bom bom
Bim bom bim bim bom bim bim

É só isso o meu baião
E nao tem mais nada não
O meu coração pediu assim, só

Bim bom bim bim bom bom
Bim bom bim bim bom bom
Bim bom bim bim bom bom



Corta esse papo, gente! Não mete essa! O poder, como dizia Raul, está na suas mãos, é só mudar a estação. (Quando não houver os famigerados "paredões" por perto.)


Qual o problema em alguém gostar de algo como funk? Quem foi que disse que o objetivo da música é unicamente transferir sabedoria? E que sabedoria é transmitida em Bim bom e em música eletrônica que não é transmitida em funk?

Para mim, João Gilberto, Roberto Carlos, Zezé di Camargo e José Augusto são tudo uma coisa só. Todos música popular brasileira. Uns eu gosto mais, outros menos. Uns cantam melhor, outros menos. Mas são todos artistas! Não há porque desqualificar nenhum deles levando em consideração pureza.

Se ao menos esse povo conhecesse Arthur Moreira Lima e João Carlos Martins.


Para me contradizer, como sempre faço, eu acho que a decisão mais acertada de todos os tempos vetar música baiana em olinda. Só assim não ficamos à mercê de:

  • Harmonia do Samba
  • Caetano Veloso
  • Foge Mulher Maravilha
  • Toma negona
Obs1: Eu acho ruim de dar dó aviões, garota molhada, perereca safada etc.

Obs2: Eu considero Zezé di Camargo melhor que Roberto Carlos.
Obs3: Considero que, no Brasil, não há ninguém que cante melhor que João Gilberto.

3 comentários:

. disse...

Uma vez estava zapeando canais quando encontrei Tom Zé no Raul Gil. Eu acompanhei. Simpatizo com Tom Zé e ele iria falar sobre alguns tópicos.

Era o tira-o-chapéu. Tom Zé não tirou o chapéu para o ministério da educação.. citou o caso das provas vazadas do Enem. Discordei: havia muito mais por trás disso do que apenas uma incompetência do ministério.

Mas eis que Tom Zé tira o chapéu para o funk carioca. E ele dá uma aula sobre isso. Fala de semiótica, fala de semântica e fala do comportamento humano. Claro, a platéia e Raul Gil pouco se importam, mas eu estava vendo.

Tom Zé explica e canta... "Tô ficando atoladinha... Tô ficando atoladinha". Eu ri. Ele pergunta pra plateia: q menina já se sentiu molhada... ninguém levanta a mão. Tom Zé chama a platéia de um bando de caretas e reprimidas pela igreja... Que o hino da música representa justamente a nova liberdade sexual. Raul Gil incentiva o povo a se manisfestar... E só assim se ouviu o coro da platéia dizer "êêêÊÊÊÊÊ!!"

Tom Zé dá uma aula de música, explica que a tonante musical da igreja do cântico gregoriano busca uma música comportada e comodista. Explica q o funk quebra com isso.

Discuti depois sobre isto com meu pai. E a verdade que cheguei é que a música é algo q pode atingir o sublime metafísico, mas pode ser simples como encarnar o desejo humano.

Parabenizo a iniciativa de evitar trazer escárnio e desmolarizar qualquer categoria... Música é música. E nós somos tocados de diversas formas. Não existe música "melhor". Numa época, se valorizava uma construção clássica e orquestrada da música, na outra, sua simplicidade. Houve quem buscou louvar a construção quase parnasiana.. a la João Gilberto... Mas há também os que tocaram o corpo e as necessidades carnais.

Eu defendo o ecletismo.. a capacidade de apreciar diferentes formas de música. "Poeira" interpretada por Ivete tem uma composição feita por, pelo menos o não grande, Jamelão.

Foda-se quem estigmatiza canções que se popularizam. Vide: "A saga de um vaqueiro". Canção que foi tocada em SP com orgulho no começo da década.

Lembro de quem diz que Paulo Coelho não presta. De certa forma, concordo. Mas vi um dos nossos eméritos ministros da cultura falar o seguinte: "eu não gosto.. mas pelo menos.. um leitor de PC pode um dia apreciar uma obra de Machado de Assis..."

E é isso: evitar o estigma do que a cultura define sobre o que é bom. E acreditar que é possível trazer a sociedade a capacidade de avaliar diversas músicas...

João Arthur disse...

Massa, Matheus. Eu vi essa mesma entrevista de Tom Zé no Jô. Não sei porque não citei no meu texto :)

Valeu pela lembrança.

Anderson Ledo disse...

Depois da profunda discussão aí acima dá até medo de comentar qualquer coisa aqui... haha. Mas como é de graça e a necessidade de emitir opinião fala mais alto, vamos lá ;)

Pois é...
Não gosto de uma infinidade de coisas, mas não me meto em sair falando (resisto à vontade de dar umas alfinetadas de vez em quando em muita coisa).

É a velha questão: cada um que cuide dos seus orifícios auriculares da maneira que achar melhor. Apenas respeite os meus, por favor.

Não é necessário concordar com nehuma das partes... sejam os que defendem a 'pureza' e 'intelectualidade', sejam os que defendem os digdjom-digjoms tchucutxá-tchucuxás da vida...

O único problema é que as pessoas querem ter opiniões universais (os tais pseudo-intelectuais do texto), quando só precisavam dizer "**EU** não gosto" e pronto.

Um alívio é ter acesso à Internet e poder escolha seu nicho e ser feliz...