domingo, 21 de novembro de 2010

Sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras

Sempre trancam o meu carro aqui na garagem do prédio. A solução, embora irritante, é simples. Falo com o porteiro para achar o dono do carro para que ele possa me libertar. Eu já acho isso um absurdo, mas a garagem é comunitária, então não posso reclamar com veemencia. Vale salientar que quando tem carro nela, coloco o meu do lado de fora.

Um dia ia dar merda, né? Pois é. Foi hoje. O Porteiro não estava. Eu estava saindo para almoçar. Merdou. Não havia o que fazer.

Fosse um homem de verdade, eu teria empurrado o carro dele com o meu. "Mas você esqueceu que eu sou frouxo?" Ou de uma maneira mais poética: "sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas."

Vim pra casa e escrevi um bilhete:

"Olá. Hoje não pude sair para almoçar porque o meu carro estava obstruído pelo seu.
Ainda bem que não foi nada urgente, não é?

Que tal combinarmos da próxima vez? Quando você for trancar meu carro, deixe um bilhete com o número do seu apartamento. Assim, será fácil eu interfonar e pedir para que, gentilmente, você tire seu carro.

À propósito, como não pude almoçar fora, estou fazendo almoço. Coisa simples. Strogonoff e arroz. Se você quiser aparecer, seja bem-vindo.

Abraços."

Colei no para-brisa dele, que por causa desse post descobri que perdeu o acento, mas não perdeu o hífen depois da nova reforma ortográfica.

Meus antepassados masculinos não devem ter muito orgulho de mim. Pelo menos ainda estou vivo e sem nenhum arranhão. É o que dizem por aí,  "frouxo não morre de facada."

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Ah...a pesquisa de vinte leitores.

Motivado por este post, resolvi deixar a minha opinião sobre o que acontece na academia.

Por academia, entenda "pesquisa em Ciência da Computação feita no Brasil e que João Arthur tem conhecimento".

Existe sim um hiato entre o que é feito dentro da universidade e o que é feito no mundo lá fora. Até aí nenhuma novidade, né? O que eu vou deixar claro é o porquê, em minha opinião, dessa dicotomia entre esses dois mundos.

O principal fator é que o sistema da academia é endógeno. As publicações que procuramos ter geram impacto somente para dentro dos integrantes do próprio sistema. Esse ciclo vicioso faz com que nossos olhos não enxerguem além do portão do campus.

É como se o resultado da Fórmula 1 fosse só o mundial de construtores. Não é. O resultado da Fórmula 1 é a tecnologia que é trazida para o mundo real. Você há de convir que F1 não é mundo real. Se fosse, Damon Hill não tinha sido campeão.

Outro fator é que nos achamos espertos demais para servir ao mercado. "Temos que ter liberdade de criar." "Não podemos ser guiados por algo externo." "Não podemos ser fábrica de software!" "Só acordo depois das 10h" (essa última é minha)

Ora, que tal barganhar? Por que não ser fábrica de software com os seguintes objetivos:

  • Agradar o cliente
  • Formar mão-de-obra qualificada
  • Ganhar dinheiro para gastar em pesquisa que resolva outros problemas do cliente
Muita gente é contra. Não consigo entender o porquê. Algum professor que, por azar, cair nesse blog e for contra, está convidado a discutir.

Quase por fim, do jeito que está, pesquisa é útil apenas para gerar melhores educadores/professores.  Coisa que faz muito bem, por sinal. 

No mais, me frustra a ideia de que, o texto mais importante que vou escrever como pesquisador vai ser lido por, no máximo, vinte pessoas. Não é estranho que este post tenha mais leitores?

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Os escrotos de "Viva o povo brasileiro"

Perilo Ambrósio é um sujeito escroto, parido por João Ubaldo Ribeiro em "Viva o povo brasileiro".  Ele, ou Ubaldo? Nunca sei a quem atribuir os atos. Ao criador ou a criatura? Pois bem, por ora, vou jogar a culpa no escroto criado. Perilo traduz em uma frase o que acho que todo cidadão, com raciocínio acima de uma ameba em coma, deveria tomar em uma votação. A citação é:

"─ Entre a Pátria e a família, minha boa mulher, Deus há sempre de me dar forças para escolher a primeira, eis que vale mais o destino de um povo que a sina de um só."

Essa é minha opinião sobre política. Não há de se pensar somente no seu quinhão. Eu entendo que, Serra ou Dilma, se entrarem, pouco vão influir na vida das classes mais altas. Talvez as coisas fiquem um pouco mais difíceis ou um pouco mais fáceis para mim, mas não vai mudar muito.

Muda realmente para os extremos. Sobretudo para o extremo mais pobre. A entrada de Lula em 2002 impactou de uma forma absurda na população miserável. Entrando ele ou Serra para mim (enquanto classe média) tanto fazia, mas não tanto fez para essa classe de gente que vive na faixa de gaza - entre a fome e a vontade de morrer.

Isso, para nós paraibanos, ainda é mais evidente. A frase parece ter sido criada para o nosso cenário político. Há de se votar pensando em quem de fato é melhor para todos, e não de um destino comissionado de um só.

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ps.: Voto em Dilma e Ricardo.
Ainda estou lendo viva o povo brasileiro, mas ele é grande e não tem figuras. Não estou gostanto.
Apesar da frase, Perilo é um escroto.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Livros e Remédios

Acabei de ler Adultérios, de Woody Allen. Estou dizendo isso porque é raro eu ler. Por isso, é preciso registrar. Já disse, não gosto de ler, gosto mais das figurinhas.

O fato é que depois desse livro eu consegui caracterizar livros como remédios. Eu espero que um livro exercite partes dos meu cérebro que nunca, ou na maioria das vezes, são pouco utilizadas. Ou seja, que me cure ou me faça melhorar de alguma deficiência.

No caso desse livro, eu o caracterizei como um placebo. Li rápido. Digeri. Me deu uma sensação bacana de bem-estar por causa dos diálogos inteligentes e piadas/sacadas interessantes. No entanto, foi tudo efêmero e não causou efeito real. Eu não consigo dizer para alguém os motivos para se ler Adultérios. O livro me deixou bem por um certo tempo (5 minutos), mas não vai me servir nem para me gabar na roda de pseuso-intelectuais que frequentam o bar do tenebroso.

"Cara, Woody Allen é um gênio. Já li vários livros dele. Ele é o cara. O ISO 9001 dos criadores de diálogo Froidianos. Leia Adultérios, leia porque...é...é...porque é dele, velho. O cara é bom."

Por outro lado, Cem Anos de Solidão é um livro que me curou alguns carcinomas (eu ia dizer câncer, mas o plural de câncer é muito escroto).

Ainda, eu acho que existem livros que assemelham-se a quimioterapia. Isto é, eles te curam de células danosas, mas estraga outras e fazem você se comportar como babaca quando vai discutir algo relacionado ao assunto. Exemplos desses livros você pode encontrar na seção de livros marxistas.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Carregadores de Piano

Essa dúvida de que somos ou não ciência é papo recorrente e polêmico. No entanto, uma coisa que tenho certeza desde que ouvi Jacques falando pela primeira vez é que nós (ciência da computação) somos meio.

É isso. Computação não é fim. É meio. Somos usados para alguém ganhar dinheiro mais rápido. Somos veículo. Carregadores de piano.

O problema é que eu sempre olhei essa constatação com 3 graus de miopia. Sempre olhava com o viés do mercado. Empresários utilizam sistemas de informação para gerenciar melhor os dados e automatizar tarefas e, por consequência, arrecadar mais metal. No entanto, se olharmos com os óculos da pesquisa, podemos também servir de veículo para outras ciências.

Veja, a estatística permeia quase todas as outras ciências, servindo de veículo para dizer verdades com 95% de confiança. Por que não somos tão bem sucedidos quanto eles? Ou somos?

Se for parar pra pensar, o MatLab está aí poupando unidades de tempo da galera tem um bom tempo. Só que eu acho que poderíamos fazer mais. Nos mostrar mais. Eu tenho uma impressão do tamanho do meu bigode de que tem gente usando Poly 1.6 pra fazer cálculo repetitivo na mão porque não conhece o conceito de algoritmo.

Tudo bem. A estatística é ensinada desde que nos entendemos por estudantes de exatas. Será que essa é a saída então? Uns 2,5 Tesla de algoritmos no ensino médio?

Esse post é isso mesmo. Várias perguntas que gostaria de ouvir algumas respostas. Se possível, divergentes :)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Resumindo as discussões sobre o post anterior

Pessoal, muito legal as discussões geradas pelo post anterior. Faz tempo que eu não incendiava tanto. A última vez foi quando disse que Bono Vox é o Reginaldo Rossi Irlandês.

Resolvi fazer esse post para resumir alguns pontos interessantes. Alguém me corrige  se eu estiver errado.

O primeiro é: Pelo menos estamos preocupados/incomodados com a questão. Isso é um ótimo sinal e devemos seguir questionando. (Não sei se foi isso que Nigini quis dizer com "Espero que meus colegas novos cientístas continuem novos...")

- Isso devemos (pelo menos eu devo) muito aos nossos professores. Em especial, esse semestre, Raquel e seu filho mais velho - o método científico.

Nazareno acha que outro ponto muito importante é a relevância do que se estuda. O que faz muito sentido, embora Matheus tenha dado um contra-exemplo interessante. "Apenas 8 anos depois minha pesquisa foi utilizada."

Além disso, muitos concordam que pressões por publicação pode ser um catalisador do comportamento desonesto. Só que, como sempre, Nazareno viu além. Ele lembra que isso é só um reflexo da maneira como somos avaliados (# de publicações).

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Será que o que fazemos é pesquisa?

Eu acho que vou ser bastante criticado por esse post, mas essa é a ideia.

Eu faço a pergunta do título porque acredito que o que nós temos feito está bem longe da palavra pesquisa em seu sentido denotativo - investigação, indagação, inquirição, busca.

O que me leva a pensar assim é fato de existir uma grande quantidade de trabalhos, inclusive o meu mestrado, da seguinte maneira:

"Tenho uma ideia interessante e preciso mostrar que ela faz sentido, escala, tolera falhas etc"

Esse é o primeiro passo. Só depois disso se pensa "Qual problema eu quero atacar?", "Quem são os trabalhos relacionados?" e "Que métrica utilizar para avaliar?".

Isso é tão verdade que, *muita vezes*, mudamos o problema sendo atacado sem que se mude a solução!

A última pergunta evidencia ainda mais a minha opinião. Se eu utilizar uma métrica que não me favorece, a minha primeira atitude é entender o porquê disso. A minha ideia nunca está errada. E eu não meço esforços para mostrar isso. Mudo os cenários, mudo os dados de entrada etc. Mudo até a métrica, se for preciso. (eu = pesquisador)

Nesse caso, esses pesquisadores podem ser vistos como "criadores de boas ideias".

Essa atitude é bem diferente de observar um fenômeno natural e perguntar: Por que isso acontece? O cara que faz isso está pesquisando o porquê de um determinado fenômeno. Mesmo que ele não tenha uma grande ideia, ele parece se aproximar mais da palavra pesquisa do que o tipo "criador de boas ideias."

O que eu acho é que essas duas espécies podem conviver tranquilamente. Por um lado, o pesquisador curioso identifica um fenômeno, o estuda e mostra o porquê dele acontecer. Enquanto que o pesquisador "criador de boas ideias" tenta bolar ideias que explorem aquele porquê.

No entanto, a espécie pesquisador curioso parece estar em estinção, ao menos em Ciência da Computação. Eu acredito que nós somos muito mais "criadores de boas ideias" e que empurramos essas ideias goela abaixo com alguma métrica que nos satisfaça.